O metaverso é um termo que vem sendo cada vez mais usado nos últimos anos e, consequentemente, as dúvidas e inquietações sobre o tema também. Atualmente, além de marcar presença nas inovações relacionadas às redes sociais, economia, internet 5G e na própria tecnologia em si, o metaverso passa a ser, cada vez mais, uma realidade dentro da área educacional.
Metaverso nas instituições brasileiras
Na FIA Business School já é possível participar de uma sala de aula a partir do metaverso: em suas aulas, a professora e diretora do núcleo Labdata da FIA, Alessandra Montini, usa óculos de realidade virtual para ensinar e se encontrar com seus alunos virtualmente, no espaço criado. Caso o aluno ainda não possua o aparelho, sem problemas, pois também dá para entrar para o espaço por meio de videochamada.
“Para eles é uma experiência incrível. Não estamos falando de um mundo ‘chapado’, e sim de um universo diferente. O aluno pode participar de casa, deitado na cama, quando é transportado para a sala de aula. Ali, ele anda, fala, bate palma e interage com os colegas, enquanto escrevo na lousa, passo uma apresentação e tiro dúvidas”, explicou Alessandra em entrevista ao portal Exame.
A diretora conta que, apesar da interatividade e inovação, uma aula dentro do metaverso se constitui como um grande desafio para os educadores, que precisam saber toda a matéria de cor, acompanhar as expressões dos avatares e ainda controlar todos os recursos tecnológicos disponíveis. “Dar uma aula no metaverso é como uma maratona. Tem de parar uns 15 minutos e descansar depois”, afirma.
Universidade de São Paulo
No caso da USP, por enquanto a universidade ainda não conta com aulas sendo ministradas essencialmente no metaverso. O que ocorreu foi que, por meio da parceria firmada com a United States of Mars (formalmente conhecida como Radio Caca – RACA), a instituição recebeu um NFT (Non-Fungible Token, ou token não-fungível), que pode ser explicado como um ativo criado a partir da tecnologia que garante a posse de um bem exclusivo, que nenhuma outra pessoa tem.
Por sua vez, o NFT corresponde a uma “terra virtual” dentro do metaverso, ou seja: um ambiente de realidade virtual, aumentada ou mista, dentro do qual será possível construir diferentes espaços voltados para a interação dos usuários (que podem ser os alunos, os professores, os pesquisadores, visitantes, dentre outros).
Desta forma, a universidade se consagra como a primeira da América Latina a ter uma parceria com a RACA para apoiar na construção do seu metaverso. A parceria, inicialmente desenvolvida pelos pesquisadores da Escola Politécnica da USP, deve ir muito além da engenharia e envolver a colaboração de uma grande variedade de áreas de conhecimento, uma vez que os mecanismos internos ao metaverso também podem ser objeto de pesquisa nas áreas de economia, direito, medicina, comunicação, artes, dentre outros.
Para se ter ideia do amplitude que o recurso abrange, algumas das áreas que podem ser estudadas e desenvolvidas pelos pesquisadores são: modelagem 3D, realidade virtual/ aumentada que “recriam” o espaço real da universidade dentro da plataforma; avaliação do aprendizado e comportamento dos alunos em aulas e interações dentro da realidade virtual pelos pesquisadores de educação e psicologia e, ainda, a eficácia de diferentes dispositivos de realidade virtual para acesso ao próprio metaverso, o que pode ser analisado pelos acadêmicos das áreas tecnológicas.
Qual a realidade do metaverso na educação?
Atualmente, empresas e universidades nos Estados Unidos, China, México e partes da Europa já têm investido em oferecer treinamentos e cursos com aulas exclusivamente a partir da realidade virtual. Além de todas as possibilidades que o recurso permite, as instituições destacam a grande vantagem de poder receber alunos e funcionários de todo o mundo.
Agora, falando especificamente do Brasil, embora a pandemia da covid-19 tenha trazido a necessidade de implementação de recursos tecnológicos e plataformas de ensino a distância para muitas escolas, faculdades e universidades, o avanço do metaverso na área educacional do país ainda encontra fortes desafios.
Conforme explica a doutora em Educação pela USP, com especialização em Tecnologias Digitais Aplicadas à Educação, Luciana Allan, o recurso ainda levará um tempo para se estabelecer de fato nas salas de aula do país e estar presente no dia a dia dos estudantes e professores.
“Antes de pensarmos no metaverso, é preciso entender que ainda não temos tecnologias que permitam usufruir de todas as possibilidades que ele traz. Para isso, são necessários equipamentos sofisticados, o que não é uma realidade no Brasil”, relata em entrevista ao portal Abc do Abc.
Na opinião da especialista, embora o metaverso possa se tratar de uma nova forma de ensinar e trabalhar, muitas pessoas ainda não tem conhecimento sobre o recurso e podem ter grandes dificuldades de acompanhar profissionalmente toda a revolução digital e virtual que poderá ocorrer.
Portanto, será necessário prover acesso à informação e investir em um processo de formação dos educadores, para que aprendam primeiro a lidar com essa nova tecnologia e entendam todas as possibilidades oferecidas para que, posteriormente, esse mundo virtual/real seja trazido para o contexto educacional de forma benéfica.
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Originalmente publicado em Quero Bolsa