A AWS está determinada a expandir seu serviço de nuvem para o setor público na América Latina. Nesse mercado, o Brasil é o foco principal da empresa; Chile, Colômbia, México e Argentina também têm se destacado na adoção de cloud services para o setor público. Fazem ainda parte desse portfólio os governos de El Salvador, Guatemala, Costa Rica e Peru.
“O Brasil está se desenvolvendo muito rapidamente na adoção de serviços na nuvem. Claro que há níveis diferentes de maturidade no uso pelos governos federais, estaduais ou municipais. Mas nós contamos com processos sólidos para desenvolver a adoção de soluções em nuvem nos diferentes níveis”, disse o britânico Liam Maxwell, diretor global de transformação do setor público da AWS, em entrevista exclusiva a Época NEGÓCIOS.
Mesmo com a disseminação dos serviços em diversos países latino-americanos, a AWS ainda atinge apenas 5% do seu potencial no continente, de acordo com declarações de Andrés Tahta, diretor da AWS para o setor público na América Latina, durante o AWS Public Sector Symposium, realizado em Brasília na segunda semana de maio. No resto do mundo, a taxa é de 10%, segundo o executivo. Para melhorar esses números, a gigante tem investido em governos estaduais e municipais – por enquanto os maiores clientes ainda estão concentrados na esfera federal.
Por isso mesmo, a mais recente iniciativa da gigante no Brasil é a plataforma FGV Municípios, desenvolvida em parceria com a Fundação Getulio Vargas. A proposta é reunir no mesmo local informações estruturais, coletadas nas principais bases de dados do país, para apoiar a gestão pública nos 5.568 municípios brasileiros. Além de indicadores de cada cidade, são apresentados dados associados, como a evolução da população e do Produto Interno Bruto (PIB), investimentos em saúde e educação, receitas e endividamento. A plataforma conta com ferramentas para ajudar os gestores a comparar e combinar esses dados, de maneira a gerar diagnósticos e desenvolver planos de ação customizados.
“Um dos serviços mais procurados pelos governos municipais em todo o mundo são sistemas de pagamento na nuvem”, afirma Maxwell. “Trata-se de um serviço que só é necessário por um curto período a cada mês, mas precisa estar disponível imediatamente quando for requisitado. Ao mover o serviço para a nuvem, há uma economia de recursos considerável, além de um ganho de transparência e segurança”, diz.
Eleições e pandemia
No Brasil, a AWS teve um papel importante no suporte ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a realização das eleições de 2022. Em parceria com a Serpro, a empresa ajudou a fornecer títulos eletrônicos para milhões de pessoas. “Para esse serviço, tivemos 45 milhões de acessos”, diz Maxwell. Outra participação da empresa ocorreu durante a apuração dos votos. “Para garantir o acesso de milhares de brasileiros aos resultados agregados pelo TSE, nós montamos uma rede de distribuição de conteúdo de alta capacidade”, afirma o executivo.
No auge da pandemia de covid-19, os serviços na nuvem foram utilizados por órgãos como o Conecte SUS para digitalizar os registros de vacinação, tornando possível para qualquer pessoa checar seu status online – e coletando dados dos vacinados para o Ministério da Saúde. A nuvem foi usada ainda para contabilizar os resultados de testes de milhões de brasileiros. “Os data centers existentes na época não dariam conta de tanta informação coletada com tanta rapidez, e não haveria tempo hábil para a compra de novos servidores”, diz Maxwell.
Do público para o privado
Não é à toa que Liam Maxwell fala com desenvoltura sobre os erros e acertos dos órgãos públicos: ele mesmo foi um funcionário público durante sete anos, quando trabalhou como Chefe de Tecnologia do governo britânico – o primeiro a exercer essa função, de 2013 a 2020. “Foi uma experiência desafiadora, mas muito interessante”, pontua o executivo, que criou fama ao economizar 4 bilhões de libras para o governo britânico, apenas nos primeiros quatro anos.
“Os custos diminuíram de duas maneiras. Em primeiro lugar, o setor público estava gastando uma fortuna para atender 125 milhões de ligações telefônicas ao ano. No momento em que criamos um sistema onde as informações eram muito mais fáceis de acessar, e um site focado totalmente no cidadão, o número de telefonemas diminuiu drasticamente. Então isso foi uma parte”, conta. A outra foi a diminuição dos gastos com a construção de sistemas próprios para o governo – tudo foi transferido para a nuvem.
“Em todo o mundo, descobrimos que transformação digital dos serviços públicos acontece muito mais rapidamente quando o governo trabalha o tempo todo com o cidadão em mente”, diz. A AWS raramente conversa com políticos, conta Maxwell. “Na maior parte do tempo, falamos com gerentes sêniores, que são aqueles que colocam a mão na massa e fazem as mudanças acontecer.”
Trabalhar com clientes governamentais é totalmente diferente de lidar com clientes privados, diz o executivo. “Quando você fala com o setor público, não está pensando em um segmento específico. Seus serviços têm que servir a todos, e todos precisam ser tratados de forma igualitária, com a mesma eficiência. Além disso, não estamos sempre tentando vender a última tecnologia. Em vez disso, tentamos entender qual é a ferramenta certa para atender cada caso.”
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Originalmente publicado em Época Negócios